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ago
26

Flaming Cliffs

Acordamos muito cedo pois tínhamos um plano de voo para as
6:00h mas o vento estava um pouco forte e discutimos e estudamos muito esse voo
eu e Raffaele porque pra mim dava pra decolar com uma certa tranqüilidade mas
Raffaele pensou em todas as possibilidades negativas e como o hospital mais
próximo estava a cerca de 1.000Km decidimos não voar. O vento no deserto de
Gobi pode mudar de um momento ao outro. Vimos anteriormente o vento chegar a
70Km/h e não podíamos arriscar, afinal deveríamos chegar a tarde ao local mais
esperado da expedição, Flaming Cliffs.

Desmonta-se equipamentos e vamos as dunas de Khongorin Els.
O visual era espetacular e o vento havia abaixado bastante e corremos para
montar os equipamentos. Raffaele decolou primeiro, Alfredo logo depois e eu por
último enquanto o resto da equipe nos esperava mais adiante a cerca de 5Km. Quando
entramos em voo tivemos a certeza de que esta viagem foi um grande presente a
todos pois nunca tinha voado um local tão fascinante como aquele. Vento liso e
constante, uma mescla de deserto de areia e dunas com uma vegetação rasteira e
poças de água, muitos camelos pastando junto aos cavalos e um espaço de voo
gigantesco. Nos divertimos muito e fizemos muitas imagens aéreas do local.

Edson e Alessio decolaram em seguida e eu e Raffaele já havíamos pousado e no
momento passava um Mongol com dois camelos, pedimos pra dar uma volta e
finalmente realizei um grande sonho de andar em um camelo em meio ao deserto. A
experiência foi fantástica e como o camelo é confortável! Com duas corcovas
você pode apoiar suas costas num tranqüilo balanço que segue seu lento passo.
Edson e Alessio voava sobre nossas cabeças… Eu estava no meio do deserto
andando a camelo com o pessoal voando de paramotor pertinho…. Que demais!

Novamente carregamos os carros e partimos rumo a Bayanzag,
onde está Flaming Cliffs. Foi feito muita publicidade pelo Marco deste lugar
pois eram as imagens que ele esperava a muito tempo.

Quando lá chegamos foi
realizada uma reunião geral para explicar as particularidades do local e nos apresentaram
um filme dos primeiros exploradores que descobriram os fósseis de dinossauros
mais surpreendentes em 1920. Andrews Chapman achou naquele local o Protoceratop
Andrewis e ali ficou conhecido como o maior sítio paleontológico da Mongólia.

Fiquei muito entusiasmado com a história e Marco nos
convidou a ir conhecer um seu amigo que mora na região e conhece o lugar como
ninguém. Marco o chama John Wayne, pois nem ele sabe o seu nome Mongol. JW é um
senhor Mongol que tem 70 anos, anda com uma moto tipo cg 150 e segundo marco é
quem encontra todos os fósseis na região por conhecê-la por completo. Já do
carro podíamos admirar a beleza dos grandes canyons do local. O sol estava
posicionado de forma que o jogo de sombras e luzes davam um tom de vermelho especial
ao terreno. O local é fantástico! Eu não me canso de surpreender-me com o
deserto. Paramos para muitas fotos e John Wayne aparece muito empolgado e feliz
de ver Marco. Começam a conversar e Marco se entusiasma. Acompanhamos JW até um
duna da região e ele começa a cavar um buraco e eis que surge diante de nossos
olhos um fóssil de um crânio perfeito de Protoceratop muito grande. Marco
admira a recente descoberta.

Voltamos animados e sem saber ao certo o que tudo aquilo
representava mas Marco frisou que tivemos muita sorte em presenciar aquela
experiência. Eu estava motivado a fazer um belo voo para mapear os milhares
veios de erosão que formam o relevo do local e chegando ao local de decolagem
Raffaele e Alessio já nos esperava com os paramotores montados. Eu estava
ansioso e convenci Raffaele a decolar um pouco mais cedo do combinado. Pegamos
nossas câmeras e fomos voando até o local do mapeamento, estava muito
turbulento e não conseguíamos manter o horizonte da filmagem, aliás, por muitas
vezes tínhamos que soltar a câmera para agarrarmos os batoques… Resolvemos
voltar e ao analisar as imagens uma certa decepção. Estavam muito tremidas e
desfocadas. Aquilo foi um balde de água fria, tanta espera, muitos Kms para
chegarmos ali, expectativa do Marco para análise destas imagens… Resolvemos
esperar e decolar mais tarde.

O vento, ao invés de abaixar estava aumentando sua
velocidade e por um momento bateu uma certa frustração. Decolamos mesmo assim,
mesmo sabendo que aquele vento poderia transformar-se em um tufão e que
enfrentaríamos rotor do relevo irregular do local. Por sorte a situação
melhorou quando voávamos e conseguíamos manter o parapente em voo retilíneo e
captar as imagens. Após cerca de 1 hora de voo retornamos a decolagem e
mostramos as filmagens a Marco na câmera que abriu um largo sorriso e nos
cumprimentou. Pela sua expressão tivemos a certeza de ter feito um excelente
trabalho, o que foi realmente muito gratificante!

Durante o jantar falávamos somente do voo que ficou marcado
na memória de cada um e revíamos as filmagens que captamos… Um Mongol do
acampamento que estávamos queria algumas fotos aéreas e comecei a selecionar em
meu lap top as imagens quando passei a foto de minha família… Meu Deus, que
saudades!!! Ví a foto de meu filhinho de 2 anos que é muito apegado a mim, a
minha esposa maravilhosa que está me dando a maior força e minha filhinha de
apenas 4 meses. A nostalgia bateu forte e eu não podia fazer nada mais do que
olhar as fotos e relembrar os bons momentos que passo em família, embrenhado
neste deserto tão longe de casa! Já era hora de dormir pois em poucos minutos
desligariam a energia elétrica do gerador e caminhei silenciosamente até a
minha Ger debaixo do céu mais estrelado que pode existir. Durmo em meio a uma
explosão de sentimentos que vão da alegria do trabalho realizado a Nostalgia de
casa. Uau!!!! Que dia!!!

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