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ago
21

Saída de Ulaanbatar

Acordamos cedo, arrumamos as malas e fomos ao café da manhã
enquanto esperávamos Marco e o resto da equipe para finalmente embarcarmos rumo
aos desertos da Mongólia. Finalmente chegam e montamos os carros e partimos.
Antes, uma parada no aeroporto Chinggis Khaan (é assim o jeito certo de
escrever e se pronuncia algo como Thindis kã) para pegarmos o último piloto que
compõe a equipe, o italiano Alessio. Enquanto esperamos temos tempo para
conhecermos mais da história local e ficamos fascinados com a história do maior
Khaan (Líder supremo) da Mongólia: Tumur ou Timurgin, mais conhecido como
Genghis Khan, aos cinco anos de idade, teve a família inteira assassinada por
uma tribo inimiga e escapa pelos desertos fugindo por 13 anos. Durante suas
andanças ele faz muitos amigos e consegue reunir muitas tribos. Ele não é
somente um grande guerreiro como também um excelente relações públicas e grande
estrategista. Retorna naquela tribo inimiga e os domina. Forma um grande
exército e parte para a conquista do mundo.

Alessio chega e todos iniciamos a viagem. Saindo de
Ulaanbatar podemos ver muitas construções sendo finalizadas, outras
abandonadas, muitas casas sem um padrão arquitetônico claro, algumas feitas de
madeira e telhados coloridos e prédios mais modernos ao lado de Ger’s feitas em
peles de animais, tudo junto e de uma forma desordenada. Nos dá uma impressão
de pobreza mas ficamos confusos pois parece que este é o padrão por aqui. Os
terrenos são cercados e existem até condomínios fechados…. Fechados com tapumes,
telhas, ripas, chapas, tábuas, mas são fechados! Estas cercas não nos parecem
que seja tanto para conter invasões e sim para evitar a circulação de pessoas
ou delimitar a área de seu terreno.

Temos Mokho como motorista e Raffaele nos conta algumas de
suas histórias com entusiasmo. Mokho é tipo “Pau para toda obra” e no ano
passado ele construiu uma carreta sob medida da noite para o dia para
transportar o Paratrike e, Raffaele com dúvidas pergunta a Marco: “Essa carreta
resiste a viagem” e Marco lhe responde: “Se foi Mokho quem fez pode ter certeza
que já calculou que vai e volta”. No outro carro o motorista é o Suchra. Além
de ótimo motorista é forte como um mamute e garantirá nossa segurança nos
desertos. Ele é muito atencioso e prestativo, nos ajudando com a montagem dos
paramotores e outros equipamentos e muito mais.

Assim que saímos da capital pudemos ter um vislumbre de como
será nossa aventura. Podemos contemplar um pouco da imensidão das estepes e
desertos da Mongólia que medem cerca de 3.000.000Km2. Pequenas montanhas e
colinas passam por um cobertor sem fim de grama verde. Só imaginamos como é
decolar daqui pois tudo é decolagem e tudo é pouso! O espírito que temos que
ter para encarar essa aventura é o de concentração, reflexão e contemplação pois
não podemos desejar nada mais do que o exuberante visual que Deus nos
presenteou. Se aqui de baixo é essa maravilha imagina do alto.

Durante a viagem temos tempo para muitas conversas e consigo
respostas a todos os meus questionamentos com o paleontólogo Marco, que mora na
Mongólia durantes 6 meses. Fora do carro a paisagem vai mudando lentamente o
cenário.

Chegamos ao Hustai National Park rodeados de chuva para todo
lado e pensamos que a previsão estava certa e demoraríamos para tirar os pés do
chão. O vento soprava muito forte impossibilitando qualquer pensamento de
decolagem. Marco nos reuniu para algumas instruções de como se comportar nas
Ger’s. Devido as portas serem muito baixas devemos sempre tirar o boné e óculos
de sol. Ficamos muito entusiasmados quando vimos de perto o acampamento com as
Ger’s alinhadas. Elas são realmente confortáveis, feitas de madeira, pele e lã
de carneiro. Dentro é aconchegante com 3 camas características e pintadas de
muitas cores prevalecendo o amarelo e laranja. O colchão é bom e tem
eletricidade. Tudo que é madeira tem pintura decorativa. As portas são
realmente baixas e com um grosso batente. O Kolumbus deu-lhe uma testada que
quase o pôs a nocaute, fez um galo e reclamou até umas horas…

No campo ao redor das Ger’s vemos camelos e cavalos que
podem ser alugados para um passeio. Muitos insetos ao redor deles faz com que
os cavalos tenham uma característica de mexer muito a cabeça. O interessante é
que você pode mudar a perspectiva de qualquer objeto ganhando um novo cenário
sob diversos ângulos, sempre com uma profundidade incrível. A National
Geographic classificou a Mongólia como o melhor país para fotografias. Agora
entendo. Fantástico.

No Ger Camp tem um restaurante central no qual fomos
almoçar. Era self service com algumas sopas típicas e pratos ocidentais como
macarrão, bife, arroz, batatas fritas… Comíamos e olhávamos o vento forte que
parecia que não ia acalmar nunca. Estávamos ansiosos pelo primeiro voo na
Mongólia.

Os banheiros são fora da Ger em um mesmo local para todos.
Fiquei impressionado ao ver tamanha estrutura em um deserto.

As 16:00h o vento começou a dar uma trégua e propus que
fôssemos ao campo jogar com os velames e em pouco tempo o céu abriu e o vento
parou de vez. Correria para montarmos os equipamentos, finalmente íamos voar.
Devido os seus 1.300m de altitude foi muito difícil a decolagem e o voo estava
muito veloz. A vela estava super ágil e pouco a pouco fui me habituando aquela
atmosfera. Não era um voo com grandes responsabilidades e sim reconhecimento de
área. Estava espetacular. A impressão é que você faz parte de um lindo quadro,
apenas um ponto ou um pequeno detalhe em meio a vastidão das estepes. O palco
muda lentamente a cada metro voado mas basta uma curva para você se maravilhar
com a grandiosidade das estepes.

Fui o primeiro brasileiro a voar na Mongólia!!! Uma sensação
incrível me levou literalmente as alturas. Edson decolou após eu pousar e
Alfredo preferiu não arriscar pois as condições começaram a piorar. Os ventos
começaram a apertar novamente e escorriam pelas sinuosidades do relevo deixando
o ar turbulento. Voltamos a nossa Ger satisfeitos e maravilhados pois pra mim
era a realização de uma vontade que cresceu através dos meses que antecederam
nossa viagem.

Após o jantar, que por sinal estava muito bom com um serviço
impecável dos garçons, fomos a nossa rotina de final de dia, ou seja,
descarregar as imagens de todas as câmeras, carregar as baterias, controlar os
equipamentos, escrever algumas linhas e dormir…

1 comentário

  1. grama sintetica disse:

    Primeiramente preciso dizer que o seu blog está excelente, assim como seus incríveis posts. Estava procurando sobre esse assunto por milênios e você me apontou a luz no fim do túnel. Já favoritei seu blog e irei acompanhá-lo daqui pra frente.

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